Açorianos que chegam a São Paulo vão adquirindo propriedades nas terras da antiga Chácara das Jabuticabas.
Na Rua Frei Caneca, mártir da Confederação do Equador, imigrantes provenientes da Ilha de São Miguel passam a residir, em 1881, na Chácara da Bela Cintra, constituindo a irmandade do Espirito Santo, culto tipicamente açoriano.
Em 1908, José Paim, em pagamento de promessa, inaugura no outeiro da Rua Frei Caneca o templo que ainda encanta o bairro que se transforma.
Esse logradouro possui características especiais que vão da maternidade, hoje desativada, à casa de Dante, onde convivi com Edoardo Bizzarri, adido cultural italiano, autor da excelente tradução da obra de Guimarães Rosa para o idioma Petrarca.
Na esquina de Frei Caneca com Luiz Coelho morava Altino Arantes, presidente do Estado, cuja residência frequentei assiduamente com meu pai. Ambos, antigos alunos do colégio São Luiz de Itu, possuíam lembranças comuns dos tempos de estudante e da época em que meu avô Francisco Bomfim mandava erguer a Capela de São Benedito em Cravinhos, e fundava a Vila Bomfim.
Foi nessa casa hospitaleira que nasceu minha primeira candidatura à Academia Paulista de Letras, quando concorri com Lucas Nogueira Garcez.
Durante muitos anos, acompanhei Dr. Altino em passeios pelo bairro. Falava-se da amizade que o ligou a meus bisavós Guilherme Lebeis e Carlos Batista Magalhães, dos tempos do Hotel de França e da fundação da Estrada de Ferro Araraquarense. Narrava história da República Velha, e da tragédia que as revoluções de 24 e 30 representaram pra São Paulo.
Passávamos às vezes pela casa da Dra. Carlota Pereira de Queirós, a primeira deputada na Constituinte de 34. Depois íamos até a Igreja do Divino Espirito Santo conversar com o Monsenhor Paulo Florêncio de Camargo que escrevia A Igreja na história de São Paulo e a História de Santana de Parnaíba.
O templo fora decorado pelo pintor Antonio Paim, filho dos açorianos que deram alma ao bairro. Desenhista, caricaturista e ceramista, realiza em 1928 exposição de seus trabalhos, onde se destacam "O coronel à paisana", Jeca Tatu" e o "Capoeira". Durante alguns anos, escreveu e ilustrou suas crônicas no Correio da Manhã, Assinando capas de livros de Alvaro Moreyra, Pereira da Silva e outros autores.
Meio século mais tarde, volto ao adro da Igreja do Divino Espirito Santo à procura das quermesses de outrora e da música das matines dançantes de Madame Poças Leitão. Sinto que tenho a idade daquele velho presidente que confidenciava ao jovem poeta segredos de uma cidade que já foi pequena no tamanho e grande em seus homens.
Do livro: Janeiros de Meu São Paulo, editora Book Mix, 2006, p.91,92 e 93.
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