quarta-feira, 14 de julho de 2010

J. O. - Um menino de Batatais


José Olympio Pereira Filho nasceu em Batatais em 10 de dezembro de 1.902, filho do Major José Olympio Pereira e Rita Junqueira de Oliveira Pereira. Era o segundo filho de uma família de oito irmãos. Eram eles: Aida, Maria Amair, Cora, Celeste, Antonio Olavo, Gabriel Athos e Daniel Joaquim.
O pai de José Olympio trabalhava como guarda-livros em Batatais, era baiano de nascimento, sua mãe paulista. Os avós paternos eram: Joaquim Vieira e Ana Bela Vieira e os avós maternos: Daniel Lopes de Oliveira mestre-escola em Batatais e Helena Osório Junqueira.
Nasceu em casa antiga no Largo da Cadeia, onde hoje é a residência de José Carlos Nori, atrás da Prefeitura Municipal. Sua Certidão de Batismo foi rasurada pelo Vigário Lafaiette de Godóy, que no lugar do nome da mãe ia colocar os nomes dos padrinhos.
Batatais naquele tempo tinha mais ou menos 19.500 habitantes e vivia da economia cafeeira com suas grandes plantações de café que perdiam-se de vista, seus prados e ribeirões, que marcaria para sempre a vida do menino de Batatais, entre eles um em especial: O Tomba Carros, onde se pescava bagres e nos campos dos quais colhiam-se suculentas gabirobas e doces bacuparis. Frutas raras nos dias de hoje, mas, muito apreciadas pelos meninos daqueles tempos.
Foi alfabetizado pela mãe, costume naqueles tempos, freqüentou em Batatais até a quarta série as escolas dos professores Daniel Lopes de Oliveira seu avô e Soares Junior do Colégio Soares.
Em 1.905, a família Pereira mudou-se para uma chácara lá para os lados da Rua dos Bambus, caminho da Porteira (hoje esquina das ruas Carlos Gomes e Prudente de Morais).
Aos onze anos trabalhou em uma farmácia em Batatais lavando vidros. Logo depois trabalha em uma confeitaria de seus primos vendendo doces, sal, açúcar, cachaça, querosene e velas. Segundo o próprio José Olympio “ fora a época mais doce de minha vida, pois coisas de menino furtava alguns doces do balcão do armazém para saciar a fome .”
Dos tempos de infância guarda eternas lembranças, principalmente das brincadeiras da época, coisas que hoje os meninos já não fazem mais, como por exemplo: Pescar bagres no Tomba Carro; Colher frutas nos pomares da cidade; Caçar bicudos; Colher gabirobas nos campos; Tomar banho de ribeirão; Passear em torno do Coreto da Praça; Jogar bolinhas de gude; Ouvir a banda tocar na Praça.
Na época os costumes urbanos na pequena Batatais eram bem diferentes dos que vemos hoje: Almoçava-se 11:00 horas; Jantava-se as 17:00 horas; Recolhia-se em casa por volta das 19:00 horas; Divertimento predileto das crianças: Ir até a Estação ver o trem; Iluminação das ruas era feita pelos primeiros postes de rede elétrica da cidade.
Trabalhou em Batatais até os 16 anos, quando um acontecimento particularmente importante para ele muda totalmente seu destino. Lembrança que traz por toda a vida.Campeão do Jogo de bolinhas de gude, numa tarde esqueceu-se do tempo e ficou jogando, só percebendo que já era hora avançada quando viu o poste de luz elétrica iluminando a rua. Vende as bolinhas ganhas no jogo aos amigos e corre para casa, onde chega correndo entrega o dinheiro de sua venda a mãe, que o repreende com energia chamando-o de vagabundo ao abrir a porta de casa para José. Manda que o garoto vá até a cozinha para tomar o café com leite e o cheiroso pão caseiro e em seguida fosse dormir, o que José obedece sem pestanejar.
Porém um sentimento de mágoa muito grande luta dentro do menino, pois a palavra Vagabundo vibra dentro dele como um trovão.“Não! exclama para si próprio vagabundo não sou e nem serei”! Naquela noite não dormiu, pois o choro e a mágoa eram muito grandes, não da mãe, mas da situação vivida.
Na manhã seguinte conversa com os pais, queria ir para São Paulo trabalhar na cidade grande, era o ano de 1918 e resolve escrever a seu padrinho de crisma o também batataiense Dr. Altino Arantes Marques que na época era Presidente (Governador) do Estado de São Paulo, pedindo-lhe ajuda.
O padrinho Altino Arantes responde a carta, pedindo ao pai de José Olympio, que o mande para São Paulo. Estava traçado seu destino, iria trabalhar na casa Garraux, na seção de livros.Em julho de 1918 o jovem José Olympio, deixa Batatais e parte no trem da Mogiana rumo a São Paulo. No trem que o levava a capital, quanta expectativa no jovem que deixa Batatais, pensando em estudar direito para voltar a sua terra natal como promotor público ou juiz de direito.
José na bagagem levava consigo as pessoas queridas que aqui ficavam: os avós Daniel e Helena, padre Joaquim, o professor Soares do Colégio Soares, o maestro Ovídio Tristão de Lima, o Coronel Gabriel de Andrade Junqueira, Dr. Barros, o Zezé Arantes da Tipografia Minerva, o Menezes da Telefônica, a carona nos carros de praça até a estação para ver o trem passar, os apetitosos e cheirosos bolos e pães de Dona Rita sua mãe.

Em São Paulo , o Zé Especula O Zé da Garraux


O sonho de ser promotor ou juiz, logo se desfez pois foi apresentado a Charles Hildebarnd dono da Casa Garraux em São Paulo. Ficou distante na sua Batatais da juventude. Mora com Dr. Altino Arantes no Palácio do Governo (no porão com os criados).
Seu trabalho na Casa era: abrir caixotes de livros, limpar as estantes e arrumar os livros em ordem. Trabalhava das sete da manhã as sete da noite, com um intervalo de uma hora para jantar e trabalhava-se depois até as dez ou onze horas da noite. inclusive aos sábados e domingos de manhã.
Em 1922, compra casa em Batatais para a família morar e lá permanecem até por volta de 1927, quando José Olympio transfere a família para São Paulo, por esta época já era encarregado da seção de livros da Casa Garraux.
A curiosidade dos anos de aprendizado lhe valeu entre os amigos da Casa o apelido de Zé especula ou Zé da Garraux.
Em 1927 com 25 anos começa a freqüentar as reuniões no Rotary Clube de São Paulo levado por seu amigo Cid de Castro Prado.
Em 14 de abril de 1.931, adquiri a magnífica biblioteca de Alfredo Pujol, o que lhe propicia mais tarde a abertura da Casa José Olympio Livraria e Editora, na Rua da Quitanda.

A Livraria e Editora José Olympio

Em 29 de novembro de 1931 é fundada em São Paulo a Livraria José Olympio Editora. Seu primeiro livro editado foi: Conhece-te pela psicanálise de Joseph Ralph. O segundo ainda em 1932 Itararé! Itararé! ( Notas de Campanha sobre a Revolução Paulista de 1932), de Honório de Silos. O primeiro ensaísta Miguel Reale com o Estado Moderno 1934, primeiro poeta Humberto de Campos Poesias Completas 1934. Primeira autora brasileira Raquel de Queiroz, com Caminhos de Pedra 1937, primeira autora estrangeira Isadora Duncan com Minha Vida, 1937.
Em 1.934 passa a residir na cidade do Rio de Janeiro. Uma mudança que traz novos horizontes para a Editora do José de Batatais.
Em 31 de dezembro de 1.935 casa-se com a jovem Vera Pacheco Jordão, paulista de nascimento e apreciadora dos bons livros da Garraux. Deste matrimônio nascem dois filhos, Vera Maria em 1.937 e Geraldo Jordão Pereira em 1.938.
Nas décadas de 1940 e 1950 José Olympio tornou-se o maior editor de livros da literatura brasileira, publicando cerca de 2.000 títulos com aproximadamente 5.000 edições.
Até a década de 80, a livraria e editora publicara cerca de 30 milhões de livros de 900 autores nacionais e 500 autores estrangeiros.
Nomes como: Augusto dos Anjos, Guilherme Figueiredo, Rachel de Queirós, Afonso Arinos de Mello Franco, Cândido Portinari, Fernando Sabino, Mário Palmério, Orígines Lessa, Lígia Fagundes Teles, Jorge Amado,Juarez Távora, Getúlio Vargas, Guimarães Rosa, Plínio Salgado, Érico Veríssimo, Homero Homem, Euclídes da Cunha, Gilberto Freire, Monteiro Lobato, Graciliano Ramos e tantos outros fizeram parte dos autores editados pela Livraria e Editora José Olympio.
José Olympio recebeu várias condecorações, medalhas e homenagens que mostram todo o valor de um homem, que a vida toda lutou, trabalhou, viveu e amou a cultura brasileira.
Algumas destas condecorações são:
*Grão Mestre da Ordem Nacional do Mérito -10/09/56
*Mérito Cidade do Recife
*Título de Cidadão Paulistano- 21/03/61
*Título de Cidadão Emérito de Batatais – 14/03/68
*Ordem Nacional do Trabalho
*Prêmio Personalidade Global - 1972
*Ordem de Andres Bello – 27/08/76
*Grão Mestre da Ordem Nacional do Mérito – 10/12/87.

José Olympio colaborou também para a criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, que compõe o complexo educacional do hoje, Centro Universitário Claretiano de Batatais – CEUCLAR.
Caso curioso aconteceu quando da visita de José Olympio a Batatais em 14 de março de 1968, quando por autoria do vereador Ariovaldo Mariano Gera, recebeu o Título de Cidadão Emérito de Batatais. Segundo testemunha do senhor José Mario Lellis, que participava da comitiva de recepção ao homenageado, “depois de almoçar na churrascaria no centro da cidade, passaram pelo prédio em construção na esquina da Praça da Matriz e José Olympio pediu para subir no elevador que levava materiais até o alto da construção, foi acompanhado por algumas pessoas e chegando lá no alto, divisou os campos em que brincara na infância e o tão lembrado ribeirão do Tomba-Carro, onde pescava bagres e colhia frutas, foi com lágrimas nos olhos que José Olympio desceu do elevador e continuou seu caminhar pelas ruas centrais da sua querida Batatais”.
Batatais possui um valioso acervo de livros da biblioteca particular de José Olympio, distribuído entre a Biblioteca Pe. Elias Leite do CEUCLAR e Biblioteca Pública Municipal Dr. Altino Arantes na Estação Cultura, além de objetos pessoais e condecorações recebidas por ele durante sua carreira de Editor.
Na manhã de quinta feira 03 de maio de 1990, estava tranqüilo, lera os jornais do dia e se mostrava alegre, era dia de posse na Academia Brasileira de Letras de sua amiga Nélida Piñon, que iria suceder a Aurélio Buarque de Hollanda.
Durante o almoço por volta das 12:30 horas, passa mal e falece de fibrilação cardíaca em seu apartamento à Rua da Glória,122, no Rio de Janeiro, local onde morou por mais de 40 anos.
O Velório aconteceu no saguão da Editora na Rua Marquês de Olinda. O esquife do patriarca repousava no centro do hall. O enterro seria realizado no dia seguinte, sexta feira por volta do meio dia.
Na saída do corpo da editora, amigos, editados, colaboradores e autoridades aplaudiram espontaneamente o velho patriarca do livro, que durante cerca de 70 anos esteve a frente no mercado editorial brasileiro.
Diversas homenagens foram prestadas ao Editor José Olympio, que sempre trouxe no coração o respeito e o carinho pela terra em que nasceu. O homem que com seu trabalho perpetuou ideias e contradições de toda uma geração de escritores, José Olympio Pereira Filho, o menino que deixara Batatais para mais tarde, se tornar “O Pai dos editores de livros do Brasil”.








Pesquisa e organização:
Prof. José Henrique Barbieri;

Finalização / Edição e Revisão:
Karen Faria de Oliveira;
Maria Lucia Garbelini Ribeiro;
Rafaela Garcia Alves Moreira;
Silvia Helena Piovan Rizatto;
Vera Lucia Arantes;

Nenhum comentário:

Postar um comentário